quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Não sei eu

- Analice Alves

De tanto amá-lo
Chamo-te eu
Confundo-te com tantos
Que dentro de mim habitam
E já não sei quem sou
E o que sinto
Não sei se o amor é meu
Ou se é teu por mim
Ou se é uma organização
De toda essa população
Que mora por aqui

Habitam bairros, cidades
Estados desorganizados
Confundem seus prefeitos
E se envolvem na corrupção habitual

De tanto amá-lo
Chamo-te eu
Com ou sem aspas
És quem sou e sou
Aqueles que guardo

Cabide de personagens diversos
Atores que sentem e vivem
E nem sempre ganham o papel
De tanto amá-lo
Perco-me num carrossel
De brinquedo
Não tenho medo do múltiplo

Não sinta rancor, raiva
Ou ciúme incalculável
Os que moram em mim
Também te amam
São eles que multiplicam
Esse tal sentimento

Amor, dentro de mim
Há mais do que nós
Dentro de mim mora gente
Alguns são íntimos vizinhos
Outros meros indigentes.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Sem saber

- Analice Alves

Vejo o amor de lado a orar por mim
Ele, de fato, é uma busca interminável
Estou certa de que morrerei sem saber
Quem és, por que falas, por onde andas

O mel que em meus lábios já pusera
Desfez-se em açúcar puro e barato
Encontrado de modo fácil em mercearias
De esquinas vazias, nos subúrbios.

O amor que vivemos sugou-me o sangue
Azedou o leite que ainda não produzo
Fez-me mãe e pai de um sentimento sem filhos
Ponteiro aos pulos

És o vândalo de meu mundo perdido
Meu corpo – ali deitado – após o coito
Nada mais é do que um crime
- sem castigo

Lembro quando dizias:
“Ali, no meio da multidão,
tão linda, eu te via e percebia
que se não fosses minha, mesmo
assim a desejaria”.

E eu morri por dentro e por fora
Como borboleta sem asas e insetos de verão
Cujas asas perdem-se por debaixo dos móveis
E resta apenas a madeira como alimento
E a lâmpada no teto como ilusão
- imóvel.

O amor, meio de lado, orando por mim
Tenho certeza de que sorri com olhos de pena
E a liberdade me grita do lado oposto da cama
Onde sonho contigo e com ela, sem saber

Ele, de fato, não existe no meu mundo particular
Enquanto estás tu a observar o meu sorriso
Há outros a procurar o triangular que escondo
Por baixo do vestido
- és raro

Tu és o tamanho compacto daquilo tudo que sinto
E que, de tão grande, não cabe em minha palma
- na alma
Se isso não é amor, de fato, não sei mais meu nome
Estarei certa de que morrerei sem saber, como indigente
Por que andas, quem és, de onde falas
Não me atendes...

[Analice Alves, 22.10.09]