sábado, 27 de outubro de 2007

Se acaso me quiseres...

Meu coração - Analice Alves

Tenho um coração
Que pode parar
Em cada esquina

Tenho um coração
Que só funciona
Às segundas, terças e quintas
ALMOÇO DE FAMÍLIA – Analice Alves


Enquanto o filho está assistindo ao jogo de futebol de seu time derrotado há tempos, a filha busca consolo aos amores perdidos lendo contos de fada com a vizinha do sexto andar. O marido conserta os aparatos eletrodomésticos resmungando para o filho que nada adianta torcer por um time como esse. O filho ignora as palavras do pai, afinal time é time. A mãe pede ajuda à filha para arrumar a mesa do almoço e a menina de cara feia levanta-se, fecha o livro e vai quase voltando. A mãe, educadamente, convida a menina do sexto andar a almoçar com a família, mas a menina recusa o convite dizendo que é aniversário da avó e todos devem almoçar juntos em sua casa.
Na cozinha a mãe mexe pra lá e pra cá a comida que ninguém sabe direito o que é enquanto o filho com a boca cheia grita bem alto: Puta que pariu! E o pai nervoso com tamanha baixaria puxa as orelhas do menino. A mãe diz que é normal afinal homem diz palavrão mesmo, mulher é que não pode. O palavrão além de ser a vulgarização da língua portuguesa e das outras também, não deixa de ser um desabafo, parece que quando falamos um palavrão todo o nervosismo sai junto com ele. O pai vê que realmente é natural e solta a orelha do filho. A menina sem fome, diz que prefere ficar lendo no quarto, mas logo as boas maneiras não deixam.
Finalmente a hora do almoço chega e eles almoçam felizes e famintos. O pai coitado come e nem sabe ao certo o que está comendo, ou melhor, ninguém sabe o que está comendo. Até que no alto falante na rua ouve-se a promoção do dia, cachorro vira lata ao molho ketchup.