domingo, 13 de setembro de 2009

Desfeitos

- Analice Alves

Talvez a vida tenha feito de nós
Apenas fantasmas de nós mesmos
Medonhos espíritos que dançam
Sobre nossos solos

Talvez o grito tenha sido sem força
E não tenhas ouvido o socorro pedido
A fé que me foi imposta ainda vive
E não me imagino a viver o contrário

Na cama em que durmo tudo é escuro
Como sonhos cheios de tiros e constelações.
A ventania atinge os meus olhos. Folhas
caem sobre meus cabelos. Sonhos.

Talvez o giro que o mundo dá seja pouco
E me deixe sempre aqui, no mesmo lugar
A desejar teu corpo como se nada mais houvesse
A amar teu cheiro por ser parte de ti.

Talvez a vida tenha feito de mim
Apenas alguém pra viver o momento
Em que beijo teus lábios sem medo do fim
E me faça fantasma após o tormento

Talvez a vida tenha feito de ti
Apenas um ombro pra eu chorar a dor
De não te ter por completo
Do ódio, meu querido, nem chego perto

Talvez o giro que a Terra dá seja tanto
Que me deixe sempre aqui, a rodar e rodar
A te amar pra sempre como uma menina
A girar junto ao mundo feito bailarina.

Talvez a vida tenha feito de nós
Pedaços esparsos de amor e medo
Corações partidos com peças perdidas
Eu em tuas mãos feito um brinquedo

Coração mal montado:
a peça de baixo na de cima
e a de cima na de baixo
Meu peito junto ao teu
Feito poema sem rima
e com letra indecifrável.


[Analice Alves, 02.09.09]