domingo, 18 de dezembro de 2011

Que nada mude

- Analice Ról

Não quero que nada mude
E, caso mude,
Que destrua os pensamentos, os momentos
Os carinhos
Não quero o sofrimento de lembrar você
De cair em seus braços em sonhos
E acordar com assobios de passarinhos
Que mal percebo

Não quero mudanças.
Não quero que me trate como qualquer
E me dê na cara
Não quero que mude, pois se melhorar
Estraga

Mas as mudanças batem à porta
Agarram nossos tornozelos nas esquinas vazias
Perseguem nossos passos
Estragam nossos planos.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

No mundo

- Analice Ról

No espelho já não me vejo
E num retrato
- 3x4
Estou mais só que a solidão

Direciono o meu corpo
no
mundo

Direciono o meu corpo
nu

Ninguém pode nos castigar
Se os padrões já não governam

E se sinto algo estranho
a sair de mim
É o meu sangue de menina:
meu líquido germinante que,
aos poucos, se desperdiça.

domingo, 13 de novembro de 2011

Cidade

- Analice Ról

Se eu não tivesse medo do vento
Se eu tivesse te encontrado a tempo
Uniria ao meu pensamento, seu gesto, seu rosto
E nada mais

Se eu tivesse falado em silêncio
O amor que era vivo e imenso
Uniria ao meu sentimento, teu calor
Mas calado, ele é zero elevado a nenhuma potência

Se eu tivesse corrigido os erros
Ou pecado menos ou errado mais
Saberia que o maior dos tormentos
É amar, amar, amar aquele que some
pelas fumaças das fábricas da cidade

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Teus minutos

- Analice Ról

É nos teus braços
Que ocorre o encontro entre mim e eu mesma
É ali, aquecida e na tranquilidade da noite
Que me guardo por dentro e vejo o que me resta

Teus minutos, meus segundos, nossas horas
E o peito dispara por não poder parar
E ele sentindo sem tino, sem jeito
Feito louco sem camisa de força

Há carne, osso, sangue. Há vida
O ar que respiro é desperdício
Pois perco-o ao ver teus olhos, a lembrar tua face
E a mão que me salva

Sinto presente as asas que não tenho
E caio de minha janela sem morrer...

domingo, 30 de outubro de 2011

Para o que gosta de cavalos

- Analice Ról

Se em teus olhos posso navegar sem rumo
Esverdeados e enveredados no futuro estão
Encontro o presente, pois este é certo
E dou-te um lembrete ao ver meu peito aberto

Se com você posso passar meus dias, viver a lida
Morrer aos poucos, me diga o que mais
posso querer da vida se não meu coração junto ao teu
E tua palma em meu rosto?

Posso dançar qual bailarina perdida a rodar o mundo
Na quadrilha inocente ou num cabaré de classe
Pois sei que é você que me penetra ao fundo

E, de noite, ao dormir ao vento encontrar a criança
que existe em nós a brincar e rodopiar
sem medo do tempo, por debaixo dos lençóis.

domingo, 18 de setembro de 2011

Falta

- Analice Ról

E de nada sinto falta
Quando o que mais tenho no fim
É teu abraço cravado em minha espalda
E teu beijo a se perder de mim

Já não quero a lua, o sol e o mar
Pois o mundo repartido é mais bonito e duradouro
E se digo que te amo, não é por falar
Amor que é amor se sente por muito pouco

E de nada sinto falta
Quando o que mais desejo
É teu braço envolto em mim
E teu coração a bater junto ao meu

Já não luto pelo impossível
Pois já não mora em mim a criança inocente
Que um dia, sem medo, olhou para os céus
E só viu estrelas cadentes

E de nada sinto falta
Quando vejo que estou ao teu lado
E, portanto, em meu país
Feito ex-exilado, proletário
A viver aquilo que não lhe é proposto.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Tanto

- Analice Ról

- Para aquele que anda de cavalos

E mesmo que eu seja uma criança carente
Doente dos dentes e careca dos pêlos
Há de haver um lugar que não é Paraíso
Que não o Inferno, pois também não mereço
Há de haver teu colo para chorar meus medos.


quarta-feira, 27 de julho de 2011

Poema III

- Analice Ról

E nada destrói o mar que se rebela contra mim
Com águas fortes, barcos imóveis, corações frágeis

Nada corrói o céu que se revolta contra ti
Com chuvas fracas, aves altas, nuvens brancas

Tudo vai de encontro ao que somos
Fujo de ti, foges de mim, fugimos de nós
Somos pássaros sem asas sadias

domingo, 5 de junho de 2011

O amor me achou

- Analice Ról

O amor me achou
E hoje em mim habitado
Mal me deixa levantar
Para tomar um copo d'água
Lutar contra a febre
E passar os dias

Não consigo acordar cedo
Nos dias de compromisso
Não consigo acordar tarde
Aos sábados e domingos

O amor me achou
E não me larga
Não me deixa ler sossegada
Não permite que eu compreenda
Um texto lido e relido

O amor me estraga as fontes
Mal me deixa vestir-me com as minhas melhores roupas
Calçar meus melhores sapatos
- O amor deixou-me ali sem sequer chinelos
De pés descalços

O amor me estragou
Não consigo passar os dias
Lutar contra morte
E viver a vida.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

segunda-feira, 2 de maio de 2011

domingo, 17 de abril de 2011

Em redor

- Analice Ról O que faço agora Com esse coração de barbante O desespero a nem ser escutado Em alto falante E o coração é Brasil de antigamente Separado em capitanias hereditárias O que faço agora Nesse país distante A inteligência a virar Ignorância de iniciante E os meus olhos São lâmpadas queimadas No final de um purgatório americano O que faço agora Nesta ficção sem ser romance A ter o que é meu Fora de meu alcance E as minhas mãos, mesmo limpas, Sujam os lençóis de desconhecidos não amados.

domingo, 3 de abril de 2011

Que o meu Deus seja cada dia menos humano e que as escadas que me levarão ao céu existam, de fato no cotidiano da minha vida errante.

quinta-feira, 24 de março de 2011

A voz

- Analice Ról

Foda-se a estrada
E os seus perigos

Não tenho medo dos caminhos
E dos nadas em bandos perdidos

Não ouço a voz da montanha
Mas vejo Deus
Que Ele me perdoe por eu dizer que O vejo
Na verdade, pode ser apenas uma luz ou vulto
Ou sombra de um mendigo

Não, não quero isso pra mim
A vida é mais do que simples passos
Mais do que simples poemas mal escritos
Rabiscados, não-pensados
Não sou poeta, nunca o fui

Foda-se a literatura
Quero acordar e ver que ainda vivo
Abrir os armários da casa de campo
E vestir-me com as roupas antigas de minha avó Celeste.

segunda-feira, 21 de março de 2011

caminhando de peito vazio
e o que sobra: pedaços meus
sons sem ecos. O colorido desbotado
de um mundo incerto
Coração aos pulos...

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

A cabeça refrescando-se com a água gelada de um chuveiro escangalhado, pensava melhor. A menina que muitos conheciam tinha morrido. Talvez tivesse escorrido naquele ralo mesmo, ali, no banheiro principal. Ou fora carregada pela chuva que entrava em casa e a levava embora para sempre.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Meu amor, venha me ver...

Meu coração vazio
É apenas um menino
Caminhando sozinho
Pelas ruas