– Analice Alves
Eu me lembro
Das noites em claro
E dos dias escuros
Do sol e da lua nova
A realidade era um sonho
Um conjunto de frutas frescas
Caídas de uma árvore antiga
O nome escondido nos lábios
O aperto num peito vivo
Eu me lembro
Da casa e de seus barulhos
Da lâmpada queimada
Pelo medo do escuro
Dos quadros tortos após a ventania
Os livros do avô que não conheci
Enchiam-se de poeira e vida
Embelezavam as prateleiras
Do meu quarto de dormir
Ali, era certo, estava eu seguro de mim
Escapava dos perigos externos
Encontrava a essência do que era
Hoje mal posso esperar
Não tenho planos, tenho passados
Encontro-me no dedo anular
De um desconhecido
Meu coração já não sente
É puro órgão
Máquina complexa de viver
E o meu sorriso era uma felicidade silenciosa
A qual os outros se alegravam em ver
Os beijos e abraços eram verdadeiros, honestos
Eram cheios de um cheiro de amor
Afeto
E eu me lembro
De tudo o que um dia fui
Das tardes em que paralisava meus olhos
Num ponto da janela
E imaginava se faria falta quando morresse
Hoje me vejo sentindo falta
Dos que já foram
Dos que já fui
Meu choro é pobre em lágrimas amargas
De arrependimento, de não ter dito
De ter desperdiçado meu sofrimento
Com coisas pequenas
Hoje não choro, não sofro
Meu coração é puro órgão
Complexa máquina de viver.
quarta-feira, 10 de junho de 2009
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