quinta-feira, 20 de março de 2008

Parceria

- Analice Alves e Lúcia Reis



Pela janela só vejo a chuva
que inunda com seu pranto os meus olhares.
Já nem sei se são minhas essas poças no chão
Eu sinto que sim, mas acredito que não.
Quantos olhares estão perdidos nesse mar?
E quantos desamores, nesses olhares?
Já nem me vejo refletida como há pouco enxergara
As ondas me levam e o que fica é saudade.
Penso na pessoa que eu era e nos passos errados
Talvez eu possa chegar ao lugar certo errando.
Talvez o que é certo pra mim seja errado pro mundo
Postado em Laladuias.
Boa Páscoa!

terça-feira, 4 de março de 2008

A perda do nada

– Analice Alves

Na verdade, não tinha nada. E por não ter nada não tinha medo da perda. Perder um ente querido ou um brinquedo predileto, não acontecia. Dormia já conformada de que não tinha nada e, às vezes, nem sonhos tinha. Acordava atordoada e rebelde por não ter sonhado, por não ter o mínimo de ilusões que uma pessoa pode ter. Sabia que quanto mais reclamava, mais coisas perdia e, como não tinha nada, reclamava mava mava. Não tinha família, nem cachorro, nem namorado e nem violão, vivia dentro de si, seu corpo era sua gaiola e, quanto mais o tempo passava, mais podre ficava e sua alma, às vezes, escapava pelas brechas e beiradas. Certo dia, acordou pulando da cama e, não sabia por que, mas precisava se olhar no espelho. Abriu a porta do banheiro, acendeu a luz e não conseguia se ver, não conseguia enxergar aquele corpo que há tempos vira em fotografias esquecidas. Perplexa olhou a olho nu para as próprias mãos e as viu, mas nada de reflexos no espelho. Resolveu dormir achando que era, finalmente, um sonho ou um pesadelo e dormiu. Depois de meia hora, acordou assustada, teve medo da certeza que sentia de que não fora sonho o que passara. Viu sua imagem pela tevê desligada e levantou mais confiante. Pôs-se de fronte ao espelho e se viu, viu aquele corpo magro, ossos, pele, músculos, ossos, ossos, ossos. Não se assustou, pois sabia o que tinha por fora. Chorou chorou chorou, sua alma ainda não se libertara.
03/03/08