quinta-feira, 22 de maio de 2008

Esponjas não ficam bem de brincos


“Até o instante em que decidi proteger-me, nada houvera de verdade. E não haveria de haver, já que eu era Lady Ashley, em O sol também se levanta, quando bebia demais e resolvia seduzi-lo descaradamente. E era Dixie Beggs, depois, toda misteriosa, em seu quarto de Essa valsa é minha, com seus três macaquinhos de porcelana, que comprei iguaizinhos, num brechó. E era também Fábio Júnior, a cantar emocionada dores que jamais sofrera. Sou assim, mil personagens, desde pequena”.

(YOUNG, Fernanda. O efeito Urano. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.)

segunda-feira, 19 de maio de 2008

As luzes escuras de um coração suburbano

– Analice Alves

Sempre odiei o fato de ele acender a luz durante o dia. O sol invadindo a casa e ele transformando-a numa pequena Paris. Irritava-me todo esse desperdício que não parava por aí. Vez ou outra, acordava com barulhos de águas escaldantes. Ele dava descarga a troco de nada em todos os banheiros da casa, mesmo quando estavam mais limpos do que ele. Não adiantava dizer nada. Ou brigávamos ou discutíamos. Sua presença, na maioria das vezes, me causava repugnância, vontade de não voltar só pra não ter que olhar pra cara dele ou não ter de ouvir aquela voz agoniada que me agoniava também. Eu tinha pena de sentir aquilo por ele, sentir algo tão estranho e ruim por uma pessoa, seja lá quem, é angustiante pra mim. Quando ele anda pesado pela casa, o chão treme e eu fico nervosa, achando que ele está mais bravo do que de costume. Quando ele me olha. Ah! Quando ele me olha...eu não sei se é aprovação ou reprovação, não sei se ele vai começar a falar sobre assuntos chatos ou reclamar de uma vida que ele diz ter. Era bastante egoísta e eu tinha muitos argumentos pra provar isso, mas ele tinha muitos outros que comprovavam o contrário. Ele não sabia que era a pessoa que mais me fazia sofrer. Chorava 30 dias no mês, sendo 20 por brigar com ele e 10 por tristeza de não conseguir perdoá-lo pelos erros mais incompreensíveis da minha vida. Tinha vergonha das próprias fraquezas e acabava transformando-se numa pessoa pouco humana, uma bomba relógio que explode em tempos distintos. Não dá pra prever. Era ameaçador encará-lo, tudo nele me reprimia. Palavras mais ou menos ofensivas, ditas por ele era avacalhador. Era uma imagem tão severa que tudo nele tomava maiores proporções. Lutei a vida inteira para conseguir evoluir nesse ponto, mas é mais fácil aprender japonês em braile do que perdoar certas coisas. Queria muito ser melhor pra te perdoar e vivermos uma vida feliz, queria muito não ser eu pra conseguir enxergar amor e felicidade no fim desse túnel. Já mudei tantas coisas, já perdoei tantas pessoas, não costumo guardar mágoa. Desculpe-me, por favor, mas não consigo te perdoar.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

não posso parar


Antes de entrar pra faculdade, achava que eu sabia muito sobre Literatura. Claro que sabia que eu não sabia tudo, mas me achava boa nessa matéria e, talvez por isso, tenha escolhido a faculdade de Letras. Mas não via coisas que hoje me parecem essenciais, detalhes literários que eu não sei como conseguia ler sem eles. Vejo que quanto mais eu estudo, menos eu sei e a sabedoria está aí: não ter medo de se entregar a algo que vai te levar ao “só sei que nada sei”. É incrível, sei que não é só na Literatura que sentimos isso, sinto isso na música também, apesar de não ter estudado tanto quanto eu gostaria. Quanto mais toco violão, entendo menos, quanto mais toco flauta, entendo patavinas, quanto mais canto, sinto minha voz perdida num universo de barulhos roucos. Talvez se eu tivesse coragem de fazer música, sentiria a mesma coisa que sinto por ter escolhido Letras. Não me arrependo de acordar cedo, ir pra UFF e sentar naquelas carteiras menos piores do que eu imaginava, não me arrependo de ter aula com pessoas que dizem que a felicidade não existe ou que no Brasil chove pra burro e nos EUA chove cats and dogs. Amo estudar as coisas que não sei e mais ainda, descobrir que tenho tempo (ou espero) pra estudar tudo isso.
Não enxergava que Borges era irônico e não entendia quem era esse estrupício do Pierre Menard!* Adorava Dostoievski, mas não sabia escrever o nome dele. Continuo com meus escritores favoritos, mas conhecer os precursores é essencial. Pra quem quer saber como eu estou, o que sinto em relação à faculdade e à vida, um pequeno relato. Sim, tem gente que quer saber da minha vida e eu faço questão de dizer, porque são pessoas muito queridas, mas que se distanciaram com o tempo e, talvez, sejam intimidadas por ele a me perguntar alguma coisa.
Fora a parte acadêmica, estou “trabalhando” bastante musicalmente. Tenho escrito muitas letras de músicas que o Tom Carlos (ele odeia quando o chamo assim) coloca melodia e a gente tenta. Eu queria cantar uma das nossas músicas no Ídolos (ou Astros?), mas ele é tímido demais pra isso (vamos fingir que acreditamos). Na verdade, ele é anti SBT e anti qualquer outro canal de tevê. Mas eu ainda não desisti, ano que vem eu procuro alguém que tenha a coragem de ir comigo. Alguém se habilita?
Outra coisinha, quem quiser ouvir alguma das nossas músicas, me peça pelo MSN que eu mando. O problema é que elas foram gravadas logo nos ensaios, ou seja, está precária a gravação, com alguns erros, tosco mesmo! Mas eu mando assim mesmo, vamos colocar a cara a tapa logo!
O que sinto agora é vontade de realização, saudades da minha infância e das minhas amigas paulistanas e paulistas, dos dias inesquecíveis em Brasília, de ver o Fábio sendo assediado por coroas, Saudade existe sim, apesar de alguns acharem que é mera falta do que não houve.

Estou lendo:

Madame Bovary – Gustave Flaubert
Montanha Mágica – Thomas Mann
Efeito Urano – Fernanda Young
Para viver um grande amor – Vinicius de Moraes
Teoria da Literatura – Vitor Manuel Aguiar e Silva (?)
Chega, né?

Beijos