domingo, 20 de dezembro de 2009

Caminha dura

- Analice Alves

Eu não sei se, na verdade, vale a pena
Viver de amor sem nem saber pra quem se dar
E me fazer tão miúda e tão pequena
Em teu colo feito pássaro sem lar

Olha, meu amor, o meu olhar
É parecido com estrela vagarosa
Que num céu bem sorrateira e preguiçosa
Sem dor ao sol cede o seu lugar

Esse mundo é todo seu, me disse um dia
Sem me avisar que junto dele não viria
Agora diga de que me valem o mar e a terra
Se a alegria e a primavera estão perdidas por aí.

Meu coração não é direito, não tem porta
O que me resta é viver de solidão
Sou passarinho do Sertão numa gaiola
Teu colo é meu ninho de algodão

Olha, meu amor, a minha dor
É uma flor que desabrocha em pleno outono
E ao acordar de um sonho
Volta ao campo pra murchar

Meu coração é uma cidade iluminada
Que em noite enluarada
Vê a luz do lampião.
Bate de leve como sino sem badalo
Que em mês de aniversário
Perde o ar de seus pulmões

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Luz

- Analice Alves

És a luz que me envolve
Quando à noite, meio de lado
Durmo com os sustos que levei
Quando menina

Acredite, meu amor
O pôr-do-sol não tem luz
E nem graça sem a dor
Mude-me a impressão que
Tenho da vida
Meu mundo não mais gira

E a buzina que tocávamos
Em dó maior
Fez-se surda e muda
Isso dói
Feito ferida grave coberta por água salgada
Abrir os olhos e ver que sofri
Por quem não me encantaram aos olhos
Diga-me: qual é a função do meu coração
Quando, feito trem partido no trilho, esquece
A outra metade e se faz egoísmo?

E a voz não é mais canto, é grito
O suspiro é evidente quando, às 4 da tarde
Inibo meus planos e procuro-te feito cego
Em terras escuras e mago em ocasiões reais

És a luz que me envolve
Quando à noite, meio perdida
Acordo sobressaltada e, sem saber
O que quero da vida,
Vou e volto sem ficar parada

25.11.09