quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Paisagem

- Analice Alves

Amor, quero que as luzes escuras
Do meu coração suburbano
Ganhem força diante do sonho
Ainda não sonhado

O amor me aparece em pesadelo
Resignado em meu sorriso torto
A batalhar por alegrias sem medos
E moldar a vida feito cavaleiro mouro

Estamos nós a separar-nos
Como geada e fogo
Eu em minha pequenez
A entregar-me ao teu corpo
E fazer-me cada vez mais miúda
E imatura na completude
Do que é pouco.

Ergues-me no ar e roda-me
Como carrossel de brinquedo
Quebra-me em tuas mãos
Faço-me pura alma e coração
- sem esqueleto.

Estás aqui, onde a vida esqueceu
De construir janela ou porta
E sem poder fugir, encaro teus olhos
E volto a vida, depois de estar morta

Quero que as luzes apagadas
Do meu coração suburbano
Sigam tuas sombras e ceguem teus olhos
Para que as verdades sejam escondidas
E para que as paisagens sejam pinturas a óleo.

Estamos nós a separar-nos
Como dedos de mãos opostas
Que se entrelaçam na oração
De todo sempre
E ao tocar as tuas
Dão-se de bruços e viram-me as costas
Para servir-te de frente.

[Analice Alves, 18.10.09]