segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Ficções

- Analice Alves

"Encheu-se-lhe a fantasia de tudo que achava nos livros”
(Miguel de Cervantes em Dom Quixote)


Meu amor, desculpe por todo esse transe
Mas passei a vida toda a me agarrar nos sonhos
E acabei me perdendo dentro dos romances
Cá estou a perguntar quem sou, de onde vim
E se o amor era sentimento ou matéria prima pra mim

Lia cada verso e cada estrofe
Na tentativa cruel de me inserir naquela
Menina que amava sem stop
E vi que não era eu quando, ao chorar uma lágrima,
Perguntei-me o porquê se ela não sofre

Dei o braço à Dom Quixote e lutei contra os moinhos de vento
E, como Luiza, encantei-me com os livros e perdi o chão
Vi-me a arrancar os cabelos feito tricotilomaníaca
A confundir a vida real com novelas de cavalaria
A tentar encontrar os motivos pra tanto excesso de ilusão

Seria aquela menina arredia o meu alter-ego
Ou apenas um eu deixando de ser lírico para
Ser completo? Seria o escrito o meu lugar de origem
Ou destino e desculpa para equilibrar a vertigem?

Meu amor, desculpe por toda essa loucura
Mas sou frágil, fraca de forças
E sou mais personagem do que literatura
Voltei ao real quando olhei pra ti e o coração
- que pena – não bateu acelerado. Olhei teus
olhos e estes eram mais vivos em meu poema
do que no alto palco do meu real cenário.


[Analice Alves, 26.09.09]