sexta-feira, 8 de maio de 2009

O dom

- Analice Alves

Tens medo de ver o que tenho em mim
A potência do meu corpo e o calor do meu
Suor

Sei que sabes os meus segredos mais absurdos
Mas finge não saber e logo lhe digo:
Enquanto estás na largada
Já estou na chegada
A perigo

Sei que não tens o dom da fala
Apenas pronuncias o meu nome
Mas tens um falo e um coração
Que bate quando a camisa aberta

Quero a vida das prostitutas inocentes
Que batalham com o prazer
Sem senti-lo

Quero o mundo dos prostitutos inválidos
Que enaltecem os músculos e peles
Já flácidos

Aquilo tudo que eu já tive
Os horários perdidos por ti
As unhas postiças que não me servem
- meus dedos estreitos
a camisola de lã que me destes
teu corpo.

Quero amar por amar
Sem medo de não ser feliz
Amo a todos e a ninguém
Amo a ti

Quero qualquer coisa sem compromisso
O cigarro já apagado por um sapato velho
Ser o inseto na sopa, uma mosca em teu banheiro
Ser mulher em tua cama
Respirar sobre o teu peito

Quero errar por errar
Sem medo da falta de acerto
Erro muito, admito
Erro por receio

Quero qualquer coisa com atitude
O choro espontâneo de um torcedor fanático
O que permanece quando o livro se fecha
O cigarro tragado por inspiração
Ser uma mosquinha em teu banheiro, o inseto na sopa
Fazer-me mulher em teu leito.
Ser saliva em tua boca.