quarta-feira, 10 de junho de 2009

Máquina de viver

– Analice Alves

Eu me lembro
Das noites em claro
E dos dias escuros
Do sol e da lua nova

A realidade era um sonho
Um conjunto de frutas frescas
Caídas de uma árvore antiga
O nome escondido nos lábios
O aperto num peito vivo

Eu me lembro
Da casa e de seus barulhos
Da lâmpada queimada
Pelo medo do escuro
Dos quadros tortos após a ventania

Os livros do avô que não conheci
Enchiam-se de poeira e vida
Embelezavam as prateleiras
Do meu quarto de dormir

Ali, era certo, estava eu seguro de mim
Escapava dos perigos externos
Encontrava a essência do que era

Hoje mal posso esperar
Não tenho planos, tenho passados

Encontro-me no dedo anular
De um desconhecido
Meu coração já não sente
É puro órgão
Máquina complexa de viver

E o meu sorriso era uma felicidade silenciosa
A qual os outros se alegravam em ver
Os beijos e abraços eram verdadeiros, honestos
Eram cheios de um cheiro de amor
Afeto

E eu me lembro
De tudo o que um dia fui
Das tardes em que paralisava meus olhos
Num ponto da janela
E imaginava se faria falta quando morresse

Hoje me vejo sentindo falta
Dos que já foram
Dos que já fui

Meu choro é pobre em lágrimas amargas
De arrependimento, de não ter dito
De ter desperdiçado meu sofrimento
Com coisas pequenas
Hoje não choro, não sofro
Meu coração é puro órgão
Complexa máquina de viver.

Um comentário:

Rafael disse...

linda demias!parabens!me emocionei.beijus