quarta-feira, 10 de setembro de 2008

não sei morrer

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Estava dando uma olhada no meu blog antigo e achei várias poesias que eu já tinha até esquecido. Posto duas poesias "antigas" e um texto novíssimo. Gostei muito dele, confesso. Ontem fiz 20 anos de idade, mas ainda me sinto a mesma. Quando eu sentir as mudanças, eu falo...ou não.

As coisas de lá – Analice Alves
Ele morreu. De acidente. A morte chegou para ele sem avisar, de um modo espontâneo. Ele não escolheu morrer naquele dia, daquele jeito, atrapalhando o tráfego como na canção. Ele morreu e deixou coisas e pessoas para trás. O filho o estava esperando no pátio da escola, era terça feira, o dia dele; a ex-mulher estava cheia de mágoas pela recém-separação; o pai não se dava bem com ele. Deixou coisas para trás. O dinheiro acumulado no banco que, em breve, seria uma viagem com o filho traumatizado pelo divórcio dos pais; não pediu perdão à mãe de seu filho, pois pensou em deixar pra mais tarde. Deixou coisas para trás. Em cima da mesa, livros que esperavam o toque de suas mãos para serem abertos e retomados. Ele não chegou. Ali, no asfalto, seu corpo já morto. Não existia mais, não ouvia os burburinhos do tumulto, não enxergava o seu olhar de desespero pelos olhos dos outros, não sentia medo. Era apenas uma alma que subia contra a vontade. Seu corpo não queria descansar, não queria aceitar o que já acontecia. Deixou coisas para trás. Queria voltar.Voltar para buscar o filho na escola, para pedir perdão à ex-mulher, para se reconciliar com seu pai, para viajar com o menino que pouco conhecia. Deixou coisas para trás.Não queria morrer, porque ainda era novo, cheio de vida. Morrer daquele jeito era desperdício. Tantos anos de academia, cursos de idiomas, tantas viagens e estudos concentrados num único homem que morria de modo banal. Deixou coisas para trás. Não queria morrer, porque queria voltar. Queria voltar para ler o segundo volume de Guerra e Paz.

O meu poema - Analice Alves

Às vezes, meu poema é tão natural
Quanto uma verdura ou um suco de frutas
Outras vezes, meu poema é tão "natural"
Quanto uma verdura ou um suco de frutas
Quimicamente modificados.


Presente - Analice Alves

Não é tão difícil olhar pro presente
Quando o passado já não manda lembranças
Fica fácil olhar o futuro com olhos de aviso
Quando o presente não passa de um dia
Esperando acabar.

a vida, seja longa ou curta
não passa de uma coincidência planejada
uma novela desenfeitada
o resultado de um ato
o durante de alguém

A morte, haja pós ou não
Haja céu ou chão
É a certeza que temos
É o medo que carregamos
É a dúvida que os cientistas
Ainda cultivam

Penso na vida, mas desconverso
Quando o assunto é a morte
Não sei falar de algo que não vivi
Não adotei uma postura que me iluda
Acho que só sei viver
Não sei morrer...

2 comentários:

Anônimo disse...

dmais menina!o texto eh triste e verdadeiro a primeira poesia eh engracada e a segunda eh mto perfeita tocou la dentro. vce eh foda cara sem mais palavras. bju

Unknown disse...

Liceee amo td q vc escrevee, sempree.... Parabéns amigaaa!!!