- Analice Ról
Se eu não tivesse morrido ontem
Encararia de bom grado as estrelas
Que em meus olhos são assimiladas
E fazem estrago na vista, nos cílios,
nas pálpebras
Juntaria as minhas mãos uma vez mais
Para pedir perdão por erros secos, imaturos
e banais
Tentaria ser mais que pura matéria
Buscaria ser vidros transparentes
e não espelhos
Mas cá estou: uma alma limpa
como as águas do Tejo de Cesário
Se eu não tivesse morrido ontem
Após a tempestade que corria por meus olhos
Após as preces que ouvia e o delírio que senti
Certamente continuaria no sofrimento latente
Que punge as horas, os dias, as horas, as horas
Que não passam, se arrastam
Minhas mãos, porcelanas que outrora fazia magia
Hoje se igualam a pouco, a pó, a nada
Mãos de vendedora de peixe
Num fim de feira
Se eu não tivesse morrido ontem
Talvez morresse hoje, amanhã, ou no sábado
Dessa semana, certamente, não passaria
Se for pra morrer que seja em outubro,
em mês de votação, em dia de Halloween
Mas eu já fui. E o que me matou não foi febre
Câncer, gastrite ou amor
Foi vazio. Foi um chão sem possibilidades
De se traçar um caminho
Não sou mais triste porque não deixei frutos
Não te deixei um menino de pele morena
E nariz adunco
Morro jovem
Com pais vivos
Sem filhos
Sem Diego.
[15 dias]
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
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