domingo, 11 de novembro de 2007

São todos humanos


Os peixes não duram muito – Analice Alves

Todo mundo morre de medo de perder alguma coisa ou alguém. E eu não poderia ser diferente. Sempre sofri quando perdia um brinquedo, um lápis colorido, um cd, um livro. A sorte é que tudo aquilo era substituível por mais importante que fossem pra mim. Cds autografados são mera vaidade, brinquedos quebram logo. O chato é quando perdemos alguém. Chamo de alguém não apenas os seres humanos que cercam os nossos dias e fazem a nossa vida existir, eles também, mas refiro-me também aos animais. O acontecimento mais triste pra uma criança é perder um animal de estimação. Seja coelho, cachorro, gato, passarinho, papagaio, peixe. Não importa. Lembro que quando eu tinha uns seis anos de idade, ganhei uma tartaruga chamada Sininho, encontrada no meio da rua por um vizinho da minha tia. Não tinha muito contato com ela, apesar de sempre falar dela com muito orgulho pros meus coleguinhas de classe que tinham cachorros, gatos, mas nunca uma tartaruga. Ela morava na casa do meu tio, porque como eu morava em apartamento, era impossível cuidar de um bicho daquele tamanho e hábitos. Logo ela morreu e eu não chorei. Passava dias sem vê-la e isso me afastou do possível afeto que eu poderia ter por ela. Meus pais resolveram me dar um passarinho. Era lindo, laranja, a minha cor favorita quando criança, cantava de manhã e acordava todo mundo. Durou bastante tempo, mas não o suficiente. Lembro que estávamos de férias e fomos à casa da minha tia pegar uma piscina. Chegamos cedo em casa pra não deixá-lo sozinho, mas quando chegamos lá estava ele, caído no solo da gaiola, sem comer, sem cantar, sem vida. Nesse dia, chorei. Não entendi o porquê que ele tinha morrido, era tão bem cuidado, levávamos ele pros lugares quando sabíamos que não chegaríamos cedo. Depois ganhei um peixe e este durou pouco. Peixes não vivem muito. Segundo meu pai, Deus os fez para que tivessem uma existência curta. O nome dele era Japona, era japonês e, claro, laranja. Depois ganhei uma cachorra que está comigo há quase oito anos e muito bem de saúde. O chato é que agora, ao dar comida ao meu peixe de mais de um ano, ele não estava vivo, estava estatelado no chão, estava morto e eu estou chorando agora, enquanto escrevo.

OBS: Postagem dedicada a Obina, meu peixe beta que acaba de deixar o mundo. Não sou flamenguista, mas dei esse nome porque meu irmão e meu pai são flamenguistas e, na época, tive medo de eles brigarem comigo por ter comprado um peixe sem a permissão de todos.

11/11/07

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