domingo, 22 de junho de 2008

cada vez que eu fujo eu me aproximo mais


Não entendi muito bem quando a campainha tocou. Eu não aguardava ninguém e fazia tempo que não recebia visitas inesperadas. Abri a porta com cautela e dei de frente com o porteiro do prédio. Seu Rubens. É um homem desses de uns 50 anos, mas que aparenta mais idade, baixinho mas de fala alta. A gente escuta sua voz lá da cobertura, segundo a vizinha lá de cima. Ele colocou a mão em meu ombro e tentando me relaxar disse que o nosso time estava uma merda e era preciso um novo técnico urgentemente. Falou bastante sobre futebol e só depois veio o real motivo da visita: ele desejava 200 reais emprestados. Disse que a mulher estava desesperada porque não conseguira dinheiro para comprar os remédios do filho dela, do primeiro casamento. Fiquei com pena do homem, da mulher e da criança. Perguntei se podia ser 100, mas ele fez que não. Abri a carteira.
No dia seguinte, Seu Rubens até abriu o portão da garagem só pra eu entrar com a minha bicicleta. Sempre foi um homem atencioso com os moradores, mas não me dava muita trela quando não tinha jogo. Uma vez, eu estava muito bêbado e cheguei ao edifício cambaleando. Seu Rubens tentou me ajudar e eu dei-lhe um empurrão. Só lembrei disso quando ele parou de falar comigo sobre o nosso timeco e eu me perguntei o porquê de tanta indiferença. Talvez seja por isso.
Leonora, moradora da cobertura se separara a pouco do marido, um empresário metido a rico que de rico não tem nada, nem o nome: Luis Augusto Conceição Silva, o Ceição. Um sujeito boa pinta que devia a Deus e o mundo, mas tinha aquele lema: devo não pago, nego enquanto puder. Seu Rubens até tentara pedir um troco pra ele a fim de comprar o tal remédio, mas desistira assim que ouviu a discussão do casal recém separado. Bateu lá em casa. Fiquei com 100 reais na carteira para gastar até o fim do mês, ainda estávamos no dia 17, aquilo de repente me preocupou.
Estava sem dinheiro fazia um tempo. Estava sem emprego e vivia de bicos. Fazia de tudo, até cabeleireiro fui, mas confesso que, felizmente, fui mandado embora no mesmo dia. A pena que senti de Seu Rubens foi maior do que meu desespero de não saber se teria o que comer no dia seguinte. Seu Rubens, talvez, tivesse mais dinheiro que eu, mas não sabia. Talvez eu fosse como o Ceição, aparentasse ter uma grana que eu não tinha.
Uma semana depois um tal de Dodô bateu em minha porta. Disse que eu estava devendo uma grana preta pra ele, umas drogas que eu havia encomendado. Tentei argumentar dizendo que eu não tinha nada com aquilo, mas levei um soco no olho que me deixou apagado por uns 45 minutos. Quando acordei, fingi desmaio e observei Dodô ao celular discutindo com outro sujeito do qual não recordo o nome. Discutia fortemente, certificava que era eu mesmo o comprador caloteiro, disse que eu estava ferrado e que não sairia de minha casa sem o dinheiro devido. Resolvi levantar. O sujeito me deu um tapa nas costas, um risinho irônico e disse: É, meu chapa, hoje a cobra vai fumar!
Empurrou-me no sofá e amarrou minhas mãos. Acendeu um cigarro fedorento e ficou a admirar um quadro que tenho do Chaplin. Deu-me raiva, eu odeio cigarro, odeio que fumem em minha casa. Minhas cortinas estavam impregnadas de fumaça. Fiquei puto. Levantei do sofá, tentei desatar o nó e não consegui. Ele me empurrou de novo e disse pra eu ficar quietinho que era só pagar o que eu estava devendo. Disse que só tinha 70 reais e ele riu exageradamente como se eu tivesse contado uma piada de humor negro. Abriu minha carteira e viu os 70 reais lá. Meteu a mão. Pegou o quadro do Chaplin e um retrato meu. Foi embora. Pensei: to ferrado, ele levou meu retrato. Mas só tentava desatar o nó bem dado. Comecei a gritar e Seu Rubens me apareceu com uma tesoura na mão.
Eu tinha um segredo e muita gente não sabia. Eu tinha um filho. Já crescido, de uns 17 anos, eu acho. Não parecia nada comigo, mas era certo que era meu. Não gostava muito do jeito dele, porque me parecia um tanto abobalhado pra idade que tinha. Era aquele tipo de menino mimado e espinhento que odeia axé e pagode, mas que se masturbava no banheiro com revistas da Sheila Melo. Tirava notas baixas e não saía da frente do computador. Certa vez, levou uma porrada forte no olho esquerdo por marcar encontro pela Internet com uma “garota” de 41 anos casada com um marginal da favela Richaça. Seu Rubens era o único que sabia da existência de meu filho, porque confiava nele a entrega de correspondências, apesar de trocarmos e-mails com maior freqüência.

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Beijo especial pro Tom e Riiii(cardo)

Um comentário:

Anônimo disse...

amor adorei esse texto mais ainda a parte q vce diz q ele odeia axe mas se tranca no banheiro com as revistas da loira do tchan. hauhauahuauhauahua soh vce merrrmo!! bjus lindinha