terça-feira, 24 de março de 2009

Traços do tempo

– Analice Alves

Um sujeito vestido de preto
Em pleno carnaval
Passa a ser impuro
Por deixar de ser ele

Olha-se no espelho
Abre a boca num bocejo
Ajeita o cabelo
Traços do nosso tempo

Por não gostar de mistura
Pede um cow-boy:
Exceto as mãos dela
Unidas às suas

O mundo atual o corrói
Mas nada que doa tanto
Respira fundo, lava o rosto
Está pronto

Um sujeito vestido de branco
Em pleno enterro
Passa a ser impuro
Pois mostra uma insegurança tênue
De seu próprio viver

Não é solução nem problema
Não é vírgula e nem ponto
Não há liberdade
Está preso ao corpo da amada

Como a palavra na garganta
Como ao nome que desconhece

Se, pelo menos, soubesse
Como se chama a sua amada
Daria pra procurar na lista telefônica
Ou fazer uma simpatia
Com seus nomes numa flor amarela

Mas não sabe como se chama
Não sabe sua identidade
Não possui um cartão pessoal
Com seus serviços e telefones

Tem apenas olhos para vê-la
Coração para senti-la
Palavras para lhe dizer “bom dia”

Olha-se no espelho
Passa a mão na barba
Vê as horas no relógio público
Traços do nosso tempo

O amor o corrói
Mas nada que doa tanto
Respira fundo, chora um pouco
Mas não está pronto...

(24/03/2009)

3 comentários:

Rodick disse...

Bom eu sou suspeito para falar sobre os textos de Analice... conheço ela a uns 10 anos já, eu sou apaixonado pelo o que ela escreve!
Lice te adoro!!!

Anônimo disse...

oi amiga,td bem? Só uma pessoa inteligente e sáabia como voce para escrever um poema de tamanha profundidade. Te admiro mto,vc está no caminho certo na faculdade de letras e terá um futuro brilhante.Parabens e beijos

Gabriel Riva disse...

lindo e comovente...
sempre tenho muito a dizer, no momento sem palavras...